por Claudio Schapochnik*

Além de simpáticas e com alto astral, as chefs Alexandra Labruna, de Santos (SP), e Lena Chaib, de Brasília, são verdadeiras alquimistas talentosas do sabor. No fundo da gelateria delas, a colorida e arejada Mare di Sapore, inaugurada em junho passado na Vila Madalena, na Zona Oeste de São Paulo, a cozinha e o laboratório de gelatos são os lugares onde elas pesquisam e testam as surpreendentes receitas. Muitas propostas, inclusive, combinam harmoniosamente frio e quente e passam longe do, nada contra, petit gâteau. Visitei a casa e agora conto o que provei de (muito) gostoso por lá. Já adianto que vale bastante a pena.

O início do Mare di Sapore segue um roteiro conhecido: a busca de Alexandra e Lena, que deixaram o mundo corporativo, por novos e prazerosos desafios num segmento que elas adoram, a culinária — a brasileira e com ingredientes, como diversas frutas, ainda desconhecidos.

Para dar prosseguimento ao projeto de trabalhar com a gastronomia, as amigas fizeram diversos cursos e viajaram muito pelo País para aprender técnicas e, sobretudo, conhecer novos produtos. “Queríamos resgatar sabores de frutas desconhecidas ou pouco conhecidas, o Brasil tem uma riqueza enorme nessa área”, contou ao QUE GOSTOSO! Lena, brasiliense de origem paraense e formada em cinema.

Com um repertório que julgaram minimamente suficiente, nasceu em 2017 a Mare di Sapore, primeiramente em Santos. Quatro anos depois de sucesso e muitos gelatos saborosos, as sócias fecharam. “Resolvemos subir a serra e abrir em São Paulo pois muito da nossa clientela no litoral era da capital e pedia pra gente abrir por lá”, explicou ao QUE GOSTOSO! a falante Alexandra, publicitária de carreira.

PALETA DE CORES E SABORES É GRANDE
A gelateria oferece gelatos (que tem leite) e sorbets (feitos com água, sem leite) de sabores clássicos como o de chocolate e, com destaque, de frutas típicas de várias regiões do País: grumixama, uvaia, butiá, cambuci, cupuaçu, cagaita, taperebá, cabeludinha, baunilha do cerrado etc.

Digamos que se isso não bastasse — longe disso —, as duas cabeças pensaram, testaram e levaram para a geladeira muitas combinações. Vale destacar que aditivos químicos, corantes e sabores artificiais não entram no processo, jamais. Na receita essas frutas menos conhecidas com as tradicionais, como melancia e morango, e outros ingredientes, como gengibre, mel, ervas aromáticas e bebiudas como o whisky. Os resultados foram supreendentes, seja no sabor, seja na cor e seja na textura.

Provei e adorei o gelato de chocolate com whisky (suave); gostei do de morango com tâmara; e me surpreendi com o de cachaça de jambu (folha típica do Norte, que adormece a língua).

Outros sabores deixei pra provar numa próxima vez: doce de leite caseiro, pequi (aquele coquinho de uma palmeira típica de Minas Gerais e Goiás), taperebá e morango com redução de balsâmico e melancia com gengibre etc.

Os gelatos e sorbets são servidos em casquinhas artesanais (até dois sabores, R$ 18,90) ou em copinhos biodegradáveis disponíveis em três tamanhos — pequeno (um sabor, R$ 14), médio (até dois sabores, R$ 16) e grande (até dois sabores, R$ 18).

Para quem desejar levar para casa, a casa oferece três opções de embalagens: um sabor, 150 gramas (desde R$ 18); um sabor, 500 gramas (desde R$ 48,60) ou dois sabores, 500 gramas (desde R$ 56,60). Além dos gelatos e sorbets, o cardápio tem shakes (veganos, batidos com água de coco), café, cachaças e cervejas artesanais.

O ALMOÇO
Minha visita na gelateria foi para um almoço, e a refeição preparada pelas sócias estava surpreendente e gostosa. Uma bomba de sabores e texturas com o quente e frio presentes.

A entrada foi de gyozas de frango (quatro) do excelente Panda Ya! com gelato de wasabi (quatro, R$ 19,90) e uma porção de pasteizinhos de angu recheado de carne e queijo montanhês (quatro, R$ 24,90), sendo dois amarelos e dois pretos, pois a massa leva carvão ativado, acompanhados de sorbet de mel e alecrim.

Os gyozas fritos estavam bárbaros e caíram bem com o gelato de wasabi. Adorei a crocância do primeiro com o gelado do segundo. Na boca, a picância do wasabi é sentida, mas bem levinha. Poderia ser mais forte. A porção de pasteizinhos de angu estava maravilhosa. Novamente aí a boa harmonia da crocância com o gelado. O sorbet de mel e alecrim, bom demais, passava antes de cada mordida.

Como prato principal, as proprietárias me serviram um prato fantástico: cuscuz nordestino com queijo fundido, picadinho de carne e tomate-cereja confit, em companhia de gelato de queijo (R$ 27,60). Há uma versão vegana: cuscuz nordestino, mix de cogumelos, tomate-cereja confit e sorbet de beterraba, abacaxi e hortelã (R$ 27,60).

Macia, a carne tinha bastante molho e estava bem temperada; o sabor do tomate confit era pra lá de ótimo; recheado com queijo, o cuscuz absorvia o caldo dos dois primeiros, ficando aquele molhadinho cheio de sabores; o gelato coroou a grande experiência com louvor. Repetiria numa boa.

Com o pomposo nome de As Palmeiras e o Cerrado, a sobremesa foi totalmente desconhecida pra mim: cajuzinho do cerrado — não é um diminutivo carinhoso, a fruta é bem pequena mesmo —; a fruta da palmeira pupunha; gelato de butiá, palmeira típica do Sul do País; e gelato de baunilha do cerrado.

Desculpe a expressão, caro(a) leitor(a): PQP, que sobremesa é essa?! É quase uma síntese do Brasil. Todo brasileiro deveria saboreá-la: o cajuzinho, delicioso e docinho, nota mil; a fruta da pupunha estava com jeito de chuchu, mas na mastigação deu pra sentir que o produto tem sabor, gostei; e os dois gelatos estavam ótimos, sabores delicados. Quase pedi outra.

Ah! As chefs me serviram ainda um prato tradicional do Norte, o tacacá: tucupi, com camarão seco, jambu e goma de mandioca e pimenta. Para o público, o tacacá é acompanhado de gelato de tapioca (R$ 37). Há anos que não tomava tacacá. O primeiro até então provei em Manaus, mas não consegui me dar bem com a goma e só comi o jambu e os camarões. No prato feito pela chef Lena, a goma estava de uma forma que tomei numa boa. Adorei.

O prato é servido aos sábados, quando a bandeira de Belém do Pará é hasteada na fachada e, ao som de carimbó, as chefs servem a especialidade.

O almoço, portanto, foi uma experiência excepcional. Super recomendo a casa. Tudo é feito com carinho, pesquisa. Depois de provar tantos ingredientes diferentes, concordo com aquela expressão que fiz que o “brasileiro não conhece o Brasil”. Uma ida ao Mare di Sapore, por outro lado, é um bom começo para quem quer conhecê-lo.

*A reportagem do QUE GOSTOSO! almoçou a convite das proprietárias

SERVIÇO:
Mare di Sapore
Rua Simão Álvares,1.029, Vila Madalena, São Paulo/SP
Horário: quarta a domingo, das 11h às 19h
Whats App: (13) 99760-0204
Acessibilidade com banheiro adaptado e rampas de acesso
Wifi para clientes
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