por CLAUDIO SCHAPOCHNIK
Num micro restaurante na região central de São Paulo, com um cardápio sucinto, dá para comer uma saborosíssima comida vegana típica do Oriente Médio – com um acento mais puxado à gastronomia israelense. Trata-se do Jaffa, do simpático e talentoso Marcel Souza, que fica no bairro de Santa Cecília. O dono e cozinheiro é paulistano e já morou em Curitiba e em Israel.
Conheci recentemente a casa num almoço com minha amiga, Cecília, que mora próximo. Ela já conhecia o Souza na trajetória profissional anterior dele, que nada tem a ver com alimentação. Agradeço demais à dica dela.
O nome do micro estabelecimento remete à cidade com mais de 3 mil anos e outrora importante porto à beira do Mar Mediterrâneo. Jaffa está praticamente colada a Tel Aviv, fundada em 1909. Dois anos após a criação do Estado de Israel, em 1950, o governo do recém fundado país fundiu administrativamente as duas cidades – usando o nome em hebraico de Jaffa, Yafo, ficando Tel Aviv-Yafo.
“Jaffa, assim como Haifa, é uma cidade onde há uma convivência interessante entre israelenses judeus e israelenses árabes muçulmanos e cristãos. Adoro ambas e a comida feita por lá”, explicou Souza à reportagem do QUE GOSTOSO!, num pequeno intervalo antes de voltar à cozinha.
“Eu amo a comida de rua de Israel. Quando voltei ao Brasil em definitivo depois de morar alguns períodos por lá, queria comer aqui o homus israelense e não o achei nem em Curitiba nem em São Paulo”, contou.
Aí houve a oportunidade de abrir o Jaffa em 2020, com a passagem relâmpago de um então sócio. No início o Jaffa funcionava 100% para viagem. Era a época da pandemia de covid19.
“Tudo aqui era uma cozinha, não recebia ninguém”, recordou Souza. “Mas o paulistano gosta de ver o lugar de onde vem a comida que ele compra, e aí passei a receber os clientes aqui, desde agosto de 2021.”
O atual endereço tem capacidade máxima para nove pessoas. O novo Jaffa – sim, haverá mudança – poderá receber quase o triplo. “Iremos para um local bem maior, onde haverá 25 lugares”, assegurou Souza. A nova casa ficará na mesma rua Fortunato, número 241 – a poucos passos da atual. Deve ser aberta em dois meses.
Em relação ao cardápio, 100% vegano, Souza disse que “deu certo e caiu no gosto dos clientes”. O menu, praticamente, se resume a dois pratos: homus e falafel. Ou seja, o grão-de-bico é a estrela da cozinha do Jaffa.
MEU ALMOÇO
Eu e a Cecília fomos os primeiros a chegar para almoçar naquela sexta-feira. Em pouco tempo, os lugares foram todos ocupados – sim, a comida vale a pena.
Pedi um dos dois pratos chamados de Menu – há o Carmel e o Nazaré. Ambos são, na verdade, um pot-pourri do que serve a casa.
Pedi o Menu Carmel (R$ 76), o qual dividi com a Cecília. Vem com homus coberto com cogumelo Portobello e cebola caramelizada, uma porção de bolinhos de falafel (seis unidades), salada israelense (tomate e pepino bem picados), pita (pão sírio, duas unidades), potinho com picles de pepino e azeitonas e três molhos (Amba, tahine e Zhoug).
Com exceção da cobertura do homus, aqui com de grão-de-bico inteiro e cozido, o Menu Nazaré (R$ 66) tem os mesmos itens do Menu Carmel.
Nazaré e Carmel são os nomes de, respectivamente, uma cidade e uma montanha. Ambas localizadas no Norte de Israel e intrinsicamente ligadas às histórias da Bíblia.
O menu reúne ainda bolinhos de falafel servidos como sanduíche ou no prato (R$ 38, cada) e a porção de homus com grão-de-bico inteiro e cozido por cima e uma pita (R$ 29).
A EXPERIÊNCIA
O almoço começou o potinho de pepinos, que estava bem crocante, e azeitonas. Adoro ambos. Que gostooooooso!
Logo depois chegaram os demais itens do Menu Carmel. O homus, uau, tinha a consistência de um veludo e coberto com temperos em pó e azeite de oliva. O cogumelo refogado e a cebola caramelizada harmonizaram perfeitamente. Comi com pedaços de pita. Excelente. Que gostooooooso!
Os bolinhos de falafel chegaram como devem: fritos na hora, quente e crocantes. Poderia ter um pouco mais de sal. A massa era daquela bastante verde e sem coentro. Que gostooooooso! Souza não usa essa erva no Jaffa, que é “8 ou 80”. Adorei este detalhe, pois não como coentro, ou kusbara em árabe e usado neste idioma também em Israel.
A salada, boa, poderia vir numa quantidade maior.
Em relação aos molhos, adorei de um modo geral. O Amba, de origem judaico-iraquiana, e o Zhoug, que vem do Iêmen, são praticamente desconhecidos para os brasileiros. O tahine, à base de gergelim, já é conhecido por aqui.
O amba é feito com manga e especiarias, e a que mais senti no do Jaffa foi o delicioso cominho – usado “a rodo” na comida em Israel. Poderia ter uma picância, mas valeu. Que gostooooooso!
O zhoug, que leva pimenta, ervas e outros ingredientes, precisava estar picante. Estava levinho.
O tahine estava tão bom que comi também puro. Que gostooooooso! O molho de pimenta era rústico, aromático e levemente ardido. Que gostooooooso!
A pita servida, que vem de um fornecedor, é bem macia e nem fina que desmancha nem massuda. Tem um equilíbrio joia. Adorei. Que gostooooooso!
Para beber, fui de água com gás (R$ 5) e provei, numa gentileza do Souza, uma cerveja elaborada com caju e maracujá da marca Frutaria e produzida no interior paulista (R$ 35, 473 ml). Uma delícia. Que gostooooooso! A Cecília foi de Guaraná Antarctica (R$ 8, lata).
(foto Claudio Schapochnik/Que Gostoso!)
(foto Claudio Schapochnik/Que Gostoso!)
Foi um almoço sensacional pelas cores, pelo sabor e pela proposta, conversa e atmosfera. O Jaffa foi uma cativante surpresa. Excelente. Super recomendo.
Como é muito pequeno, chegue cedo. Caso esteja lotado, aguarde. Vale muito. Isso pelo menos até a abertura da casa no novo endereço.
SERVIÇO:
Jaffa
Rua Fortunato, 298, Santa Cecília, São Paulo/SP
Whatsapp: (11) 98818-5000
Horário: quarta a sábado, 12h às 14h30 e 18h às 22h
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