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Cartago e o azul e branco de Sidi Bou Said encantam

por CLAUDIO SCHAPOCHNIK_Cartago e Sidi Bou Said/TUNÍSIA

A cerca de meia-hora de Túnis, a capital da Tunísia, há dois atrativos próximos um do outro e, por outro lado, bem distintos um do outro: o imenso parque arqueológico das ruínas romanas de Cartago, Patrimônio Mundial da Unesco desde 1979; e a pitoresca cidadezinha de Sidi Bou Said, onde uma lei normatiza apenas o uso das cores branca e azul para a pintura de todas as edificações. A dica é chegar cedo para visitar e aproveitar os dois lugares com tranquilidade.

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No alto, casa com muxarabi em Sidi Bou Said e, acima, pedaços de colunas na área das Termas de Antonino Pio, no sítio arqueológico de Cartago (fotos Claudio Schapochnik/Que Gostoso!)
Mapa de Túnis e Cartago Google Maps
Localização de Cartago, e também Sidi Bou Said, a partir de Túnis

No grupo de agentes de viagens do qual fazia parte, a visita a Cartago foi a apenas uma, não menos interessante, das partes do grandioso sítio arqueológico: as termas de Antonino Pio, bem junto ao Mar Mediterrâneo. O local dos banhos leva o nome do imperador romano, que governou de 138 a 161.

“A água que os romanos usavam vinha de uma distância de 13 quilômetros daqui”, disse o guia de turismo do grupo, Kamel Khaled. “Eles construíram um aquetudo, boia parte debaixo da terra, cuja vasão era de 400 litros por segundo”, emendou Khaled.

As termas de Antonino Pio foram as maiores na África e a número três de todo o Império Romano — perdendo apenas para as de Caracala e Diocleciano, ambas em Roma.

As termas romanas em Cartago eram também luxuosas. “Eles usaram na construção mármore de Carrara e granito do Egito”, explicou o guia de turismo.

O conjunto termal virou ruína depois da queda do Império Romano e as invasões posteriores de vândalos, bizantinos e, a partir do século 7, dos árabes muçulmanos, que conquistaram todo o Norte da África.

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Sebastião Rosa, da Intercâmbio Viagens, tira selfie nas ruínas com Francielle Rodrigues, da Travel Boutique, e Marielle Vianna, da Espaço Vip Turismo, todos de Campo Grande, Fausi Rachid Netto, da Campostur (Campos do Jordão/SP), e Marli Irene de Souza, da Circuito Viagens (Congonhas/MG)

ATENÇÃO: AS COLUNAS SUMIRAM!
As ruínas que vi foram da então Cartago romana erguida em cima da antiga Cartago cartaginesa, posta no chão pelos soldados do Império Romano em 146 a.C. Não sobraram muitas das enormes colunas. Há poucas, sejam em pé ou no chão.

Essa característica, da ausência de muitas das colunas que ora sustentavam os prédios da administração romana, foi explicada pelo guia Khaled.

“Depois da conquista árabe-muçulmana, os árabes transportaram muitas colunas para a cidade de Kairouan, fundada por eles em 670. Essas estruturas foram utilizadas na construção da Grande Mesquita local”, disse o guia.

[Dias depois, o grupo visitou a Grande Mesquita de Kairouan e todos viram as belas colunas romanas de Cartago no lindo templo islâmico.]

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Ruína de parte de edifício romano nas termas
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Ruínas das termas: sítio é bem conservado e impressiona

Por meio do Google Maps, coloquei a distância de Cartago a Kairouan: pelas estradas atualmente dá 173 quilômetros. Há mais de mil anos, é óbvio, não havia estrada asfaltada ou ferrovia entre os dois destinos, nem carretas puxadas por poderosos cavalos-mecânicos da Scania ou Volvo e guindastes. Então como as colunas foram retiradas e transportadas e, depois, utilizadas na obra da mesquita?

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Parte superior de coluna romana
Boas Manieras em Arabe _ Claudio Schapochnik Que Gostoso

Só mesmo tirando o chapéu para os engenheiros árabes daqueles tempos. Não sei como ocorreu toda essa logística. Demorou, pois a obra foi concluída no século 9, ou seja, pelo menos 300 anos depois.

A área das Termas de Antonino Pio é muito bonita, asseada e bem conservada pelo governo tunisiano. O local é ainda bem bucólico, com lindas e frondosas árvores. Valeu cada momento por lá.

A PITORESCA SIDI BOU SAID
Distante três quilômetros das ruínas das termas da Cartago romana, o passeio continuou na fascinante cidade de Sidi Bou Said. O lugar é encantador também pelo icônico fato de todas as edificações estarem pintadas de azul e branco.

A charmosa vila recebeu esse nome em homenagem ao seu morador mais famoso: o santo (sidi, em árabe) islâmico Abu Said Khalaf ibn Yahya el-Tamimi el-Béji. Ele viveu entre os séculos 12 e 13.

A lei que regulamenta a pintura com azul e branco é mais recente. Vem do período onde a Tunísia foi um protetorado da França — 75 anos de duração, entre 1881 e 1956, quando ocorreu a independência.

Segundo o guia Khaled foi o barão Rodolphe d´Erlanger (1872-1932), pintor e musicólogo francês e apaixonado por música norte-africana e árabe, o autor dessa norma artística-urbanística. A norma é bem zelada, e o lugar guarda uma beleza ímpar.

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Homem com a tradicional chechia tunisiana na cabeça, em Sidi Bou Said
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Lucilene Rodrigues, da Trentur (Paranavaí/PR), posa ao lado de porta
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Porta adornada e com puxadores

CAMINHAR, VER O MAR E TOMAR UM CHÁ
O ônibus com o grupo de agentes de viagens parou na parte baixa de Sidi Bou Said e, a partir dali, todos acompanharam Khaled pelas ruelas de paralelepípedo morro acima.

O que vi pelo caminho foi a beleza das casas e dos pequenos prédios, de dois andares no máximo, pintados de branco e azul; portas e portões bem trabalhados e ornados, muitos gatos — quase não vi cachorros na Tunísia; acho que os tunisianos preferem os felinos… —, alguns cafés e algumas lojinhas de artesanato envolvidos numa atmosfera agradável e, como se diz hoje, “instagramantável”.

Porta adornada em cor que foge ao azul e branco
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Lancha navega no Mediterrâneo vista desde o alto de Sidi Bou Said

Deve-se subir o morro de Sidi Bou Said em marcha lenta, não apenas para observar os detalhes com calma, mas, sobretudo, para não chegar ofegante no alto. Lá se descortina o lindo azul do Mar Mediterrâneo. Show.

Depois, a descida foi fácil pois, como diz o ditado, “todo santo ajuda”. Aí o programa é tomar um café ou chá de menta com amêndoas e “digerir” as experiências e emoções sentidas no lugar.

Tomei o chá. Bem refrescante pelas folhas de menta e bem diferente, pela inclusão de algumas amêndoas que, apela ação da água quente, estavam tenras. Bebi e as comi. Que gostoooooooso!

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No alto a entrada do Café Sidi Azizi e, embaixo, o copo do ótimo chá de menta com amêndoas
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OS MUXARABIS E O “NOBEL” EGÍPCIO MAHFOUZ
Nas ruelas de Sidi Bou Said, o diretor da operadora de turismo Flot Viagens, José Eduardo Barbosa, comentou comigo.

“Que maravilhosos são esses muxarabis, hein Schapo?”, disse Barbosa, apontando para a estrutura de madeira em um dos prédios.

“Esses muxarabis me lembraram a excelente leitura de Naguib Mahfouz, com a sua obra A Trilogia do Cairo”, completou ele, citando o autor — o escritor egípcio e Prêmio Nobel de Literatura de 1988, Naguib Mahfouz (1911-2006).

Segundo o diretor da Flot, Mahfouz aborda os muxarabis no primeiro livro d´A Trilogia do Cairo, Entre Dois Palácios. As três obras foram traduzidas para o português e publicadas pelo Grupo Editorial Record. Parece que estão esgotadas. Então, quem quiser lê-las deve buscar nos sebos físicos e virtuais.

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Capa de edição brasileira do livro de Mahfouz
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José Eduardo Barbosa, da Flot Viagens, Valéria Brito, da Trajeto Turismo (Sorocaba/SP), Ruben Liem, da Kaizen Turismo (Mogi das Cruzes/SP), e Slim Fsili, da Gold Experiences, juntos a uma linda porta em Sidi Bou Said

O muxarabi é uma estrutura, geralmente de madeira, que é colocada nas portas e janelas de uma residência ou de um prédio. O balcão é uma marcante característica da arquitetura islâmica tradicional. Recebe entalhos, adereços, cores etc.

O muxarabi leva a criatividade de quem o fez e/ou encomendou. Difícil achar um igualzinho ao outro. Entre outras funções, a estrutura permite à pessoa observar a rua sem ser vista.

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Desenho do pintor tunisiano Hedi Turki (1912-2019), que viveu e pintou na pitoresca cidade

Com a troca de saberes e a incorporação de culturas e hábitos os mais diversos durante a extensa dominação maometana na Península Ibérica, o muxarabi também foi levado pelos espanhóis e portugueses às colônias d´além mar. Resultado: você pode vê-los, por exemplo, em Lima, no Peru.

Ruínas de Cartago e Sidi Bou Said valem demais, demais. Imperdíveis.

SERVIÇO:
Flot Viagens
Lufthansa
Turismo da Tunísia

O QUE GOSTOSO! viajou a convite da Flot Viagens, voando Lufthansa e com apoio do Ministério do Turismo e Artesanato da Tunísia, do Escritório Nacional de Turismo da Tunísia e da Gold Experiences, receptivo da operadora brasileira naquele país

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