por CLAUDIO SCHAPOCHNIK_Hervás/ESPANHA*
Hervás é uma belíssima cidadezinha de menos de 5 mil habitantes. Cercada por montanhas verdejantes com mais de 100 quilômetros de trilhas para caminhar e andar de bicicletas e a cavalo, o município fica na Comunidade Autônoma da Extremadura, no Oeste da Espanha e perto da fronteira com Portugal, e me conquistou de um modo fácil fácil.
A exorbitante beleza da natureza no entorno, o perímetro urbano pequeno e fácil de percorrê-lo a pé, a gastronomia excelente e a simpatia da população combinada com a rica herança judaica material e imaterial são os motivos pelos quais justifico esse meu encantamento com o lugar. Voltaria numa boa.




Quando caminhei no bairro judaico, que fica na parte baixa da cidade vizinho à margem do rio Ambroz, imaginei uma cena.
Ao andar pelas estreitas vias calçadas de pedra com casinhas geminadas de um a três pisos, residências feitas com emprego de bastante madeira e algumas com balcões, cheguei à rua Rabilero. Lá observei com surpresa uma grande faixa desgastada com palavras e frases em ladino, ou judeu-espanhol – o idioma falado pelos judeus na Espanha: konsalu (com saúde) e kaminos de leche i miel (caminhos de leite e mel).


Mais alguns passos e parei em frente à casa onde se crê que funcionou a sinagoga da cidade, onde posei para uma foto, até a expulsão da comunidade judaica de terras espanholas em 1492.
Tomado por um sentimento de emoção e alegria, imaginei por alguns segundos ver pessoas passando por mim, conversando em ladino e andando em direção ao templo para as rezas do início do Shabat – o descanso semanal israelita, que começa ao pôr-do-sol da sexta-feira e acaba ao pôr-do-sol do sábado.




Não há mais judeus em Hervás — eles chegaram no século 14 e ficaram, portanto, menos de 200 anos por lá. No entanto, o patrimônio histórico daqueles tempos segue em pé e “vivo”, com apoio crucial da população e prefeitura locais.
Esse bairro judaico foi declarado Patrimônio Nacional em 1969. As placas com a estrela de Davi apontam os nomes das ruas relativas ao período judaico. O legal também é se perder por essa região, que abrigou 45 famílias judaicas antes da expulsão. Entre os sobrenomes, havia os Abenfariz, Calderón, Cohen, Escapa, Hamiz, Mahejar, Orabuena e Salvadiel.



Segundo o site da Red de Juderías de España, “um aspecto interessante da Hervás judaica é que depois da expulsão, a metade da então comunidade judaica permaneceu e, inclusive, alguns dos que haviam saído voltaram anos depois”. E aí tiveram de se converter ao cristianismo.
Esses conversos fundaram “a Confraria de San Gervasio e San Protasio, uma instituição que os permitia seguir mantendo em segredo alguns dos seus ritos israelitas” como a produção de vinho kasher, ou seja, dentro das leis que regulam o comer e beber no judaísmo.



“No entanto, nas primeiras décadas do século 16, [os conversos, convertidos em português] sofreram processos inquisitoriais bastante duros que inclusive levaram alguns à condenação à morte na fogueira.”
Ainda de acordo com o site da Red de Juderías, “os sefardíes (judeus espanhóis) de Hervás se dedicavam ao comércio têxtil, à arrecadação de impostos para os senhores feudais ou instituições religiosas, ao empréstimo a juros e também à medicina, pois ser médico era uma profissão muito comum entre os judeus da Espanha medieval”.
Em frente ao rio Ambroz e às antigas casas das famílias judaicas, desde 1997, a cidade promove anualmente o Festival Os Conversos. Objetivo: recordar a convivência entre cristãos e judeus e a herança dela até os dias de hoje por meio de diversas atividades – teatro, com elenco amador da própria população; música; gastronomia; mercado; palestras; exposições etc. Neste ano, o evento será nos dias 6, 7, 8 e 9 de julho. Parece ser um evento sensacional.



Fora do âmbito judaico, mas não menos interessante, há o singular jardim do senhor Antonio. O simpático morador, que deve ter entre 65 e 70 anos, é apaixonado pelas centenas de plantas de pequeno porte que cultiva na frente de sua residência. Ele permite a visitação, com entrada franca e mesmo se não estiver por lá, menos no período noturno. A casa fica no caminho do centro até o bairro judaico.




Por tudo isso, e muito mais, me encantei com Hervás. Você entendeu por quê?
SERVIÇO:
Turismo da Espanha
Red de Juderías de España
Turismo de Hervás
Festival Os Conversos
*O QUE GOSTOSO! viajou a convite do Turismo da Espanha e da Red de Juderías de España