por LUCIA GRIMALDI*
Olá, internautas amantes do vinho! Todos bem?
Quem aprecia um bom vinho, provavelmente também aprecia uma boa música. E seu eu disser que o vinho também tem um gosto musical?
Pois hoje vamos falar destas duas paixões: vinho e música.
Todo mundo sabe que a música alegra, conforta, traz lembranças boas (e, às vezes, não tão boas) à tona, é um componente imprescindível nas festas, além de excelente companheiro nas viagens, filas e atividades físicas.
Recentemente, ficou comprovado, por meio de estudos com base em dados científicos, que a música influencia positivamente a experiência de degustar um vinho. E, indo mais além, influencia a produção do vinho, seja nos vinhedos, seja nas caves.
Alguns anos atrás, o professor de psicologia experimental da Universidade de Oxford, no Reino Unido, Charles Spence, especialista em Crossmodal Research (a grosso modo, a integração de informações vindas dos diferentes sentidos), descobriu que o sabor da comida e bebida é influenciado, positivamente ou negativamente, pelo ambiente sonoro onde se realiza a refeição.
Já o consultor de vinhos Clark Smith pesquisou a percepção que diferentes estilos musicais provocavam em quem estava bebendo determinado vinho, elaborando inúmeros painéis de degustação “enoauditiva”. Assim, Smith criou uma teoria de que determinado estilo musical poderia influenciar a forma como você percebe os sabores do vinho, de uma forma positiva, potencializando a experiência, ou, por outro lado, tornando-a chata ou até mesmo, ruim.


Na Escócia, o professor de psicologia Adrian North sugeriu que sim: os estilos musicais teriam a capacidade de influenciar a percepção organoléptica (os sentidos, como paladar e olfato) dos degustadores ouvintes.


Como seria a percepção destes dois vinhos ao som de uma melodia clássica ao violino? À esquerda, o vinho branco Susana Balbo Domínio Del Plata Terroir Series Torrontés 2016 e, à direita, o vinho tinto chileno do Valle Central Luis Felipe Edwards Terraced Malbec 2017 (na verdade, um corte das uvas Malbec – 85%, Cabernet Sauvignon – 10% e Alicante Bouschet – 5%), ambos da Wine. É uma experiência e tanto!
A pianista clássica e mestre em musicologia Susan R. Lin fez um estudo muito interessante sobre a influência da música na degustação do vinho. Ela fala com propriedade sobre o assunto, pois além de musicista, ela é Master of Wine e tem certificações pela WSET e pela Court of Master Sommeliers.
Neste estudo, um grupo de pessoas mais ou menos entendidas em vinho degustaram o mesmo vinho ao som de diferentes músicas clássicas e no silêncio. O resultado: a percepção do vinho pelos degustadores foi muito mais intensa, rica e agradável durante a música do que no silêncio. Ou seja, ouvir música enriqueceu a experiência da taça.

A Master of Wine pretende estender a pesquisa para outros gêneros musicais, pois assim como o cheiro do arroz e feijão cozinhando ou do bolo de chocolate no forno podem evocar diferentes memórias afetivas em cada um, enriquecendo um momento, um tango ou um rock pauleira podem ter o mesmo efeito sobre uma taça de vinho tinto. E os reflexos disso poderão ser observados economicamente, em estratégias de marketing e vendas na área de vinhos.
Indo mais além, o grupo de produtores vitivinícolas sul-africano Cape Winemakers Guide e a financeira Nedbank Group se uniram para criar uma melodia “perfeita”, que sempre harmonizasse com uma taça de vinho Cabernet Sauvignon, provinda de qualquer terroir. Ciência médica, físico-acústica, técnicas musicais, degustação e muita, muita criatividade!
E quanto às uvas e aos vinhos? Sim, estudos mostram que as melodias influenciam o desenvolvimento e o crescimento da videira: a planta percebe as ondas sonoras e fica mais resistente às pragas, produzindo uvas maiores e mais concentradas. E isso vai além da biodinâmica, que já utiliza a música há algum tempo. Além de caixas de som espalhadas pelos vinhedos, percebeu-se que nas caves músicas nos estilos clássicos, blues e jazz influenciam positivamente na fermentação e na complexidade e qualidade final do vinho.
A vinícola argentina Kaiken, localizada em Luján de Cuyo, na Província de Mendoza, toca cantos gregorianos e irlandeses na sala de barricas, ininterruptamente, para que os vinhos evoluam embalados pelos acordes. Algumas vinícolas chilenas preferem o canto gregoriano. Mas foi na Itália, precisamente na vinícola Il Paradiso di Frassina, que as melodias começaram a fazer parte da viticultura.
A música na produção vitivinícola também chegou ao Brasil. Os vinhos da Vinícola Luiz Argenta, em Flores da Cunha (RS), por exemplo, são embalados por bossa nova nas caves.
No início deste ano, pudemos, meu filho e eu, conferir esta experiência “enomusical” in loco, na Casa Valduga.

Num ambiente que parece mais cena de um filme, caminhamos pelas caves da Casa Valduga por entre barricas de carvalho cheias de vinho em processo de estágio e maturação, ao som de belíssimas composições clássicas de Antonio Vivaldi e Wolfgang Amadeus Mozart. Um verdadeiro sonho!!!

E você, já fez sua playlist para degustar seu vinho preferido? Qual estilo prefere e com qual vinho? Conte pra gente nos comentários!

Os instrumentos das imagens deste artigo são verdadeiros, da Veneza Music, e também são tocados por mim ou pelo meu filho.
*LUCIA GRIMALDI, colunista de enologia do QUE GOSTOSO!, é sommelière formada pela ABS, graduada e pós-graduada em fonoaudiologia e direito e possui a certificação internacional Wine & Spirit Education Trust (WSET) nível 2. Contatos: grimaldipervino@gmail.com e @grimaldipervino
Muito interessante esta proposta “enomusical”.
Parabéns pelo artigo.
Concordo que saborear um bom.vinho com boa música é muito legal
Mais um artigo delicioso de @grimaldipervino
Música e vinho…
Diversão, alegria, erotismo, beleza, relaxamento, sonho ,triunfo, tristeza, desafio num doce, amargo, azedo, em frutas negras maduras, tons tostados, notas cítricas, especiarias… aroma, paladar, tato, visão e audição… olhos-nariz-boca-OUVIDOS ( bom saber!😉 )
Amei Lúcia! Cheers! 🥂
Música e vinho fazem parte da vida e quando estão juntos fazem a vida melhor.
Mais um excelente artigo de Lúcia Grimaldi. Parabéns.
Querida Lucia:
Parabéns pelo texto, muito conhecimento agregado, fiquei encantada com tantos detalhes. Muito mais vinho e música de qualidade.
Cilene Pignataro