por LUCIA GRIMALDI*
Olá, internautas amantes do vinho! Espero que estejam todos com saúde! Estava com saudades de vocês!
Quem aprecia uma boa taça de vinho está bem acostumado com as uvas Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay, Sauvignon Blanc… Mas já ouviram falar da uva Goethe? Nosso bate-papo hoje é sobre esta pequena notável.
A uva Goethe é uma variedade híbrida, o que significa que é resultado do cruzamento das espécies Vitis vinifera (uvas usadas para fazer os vinhos finos) com a Vitis lambrusca (a uva que nós comemos, também conhecida como uva de mesa, usada para “vinhos suaves”).

Foi criada em meados do século 19, em Massachusetts, nos Estados Unidos, pelo horticulturista Edward Saniford Rogers. E, sim, é uma homenagem ao escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832).

Penso que Goethe, assim como vocês e eu, era enófilo também, afinal a ele são creditadas frases como:
“A juventude é a embriaguez sem vinho”
“A vida é muito curta para beber vinho ruim”
“O vinho alegra o coração do homem, e a alegria é a mãe de todas as virtudes”
A uva Goethe foi trazida para o Brasil por imigrantes italianos em fins do século 19, mas sofreu muitas intempéries, ficando esquecida por anos. Foi resgatada no final dos anos 70 e início dos 80 do século passado por descendentes destes imigrantes, na região de Urussanga, no Sul de Santa Catarina. Lá passou a ser cultivada com sucesso, se adaptando muito bem ao local e desenvolvendo grande resistência às pragas.

Sua importância histórico-cultural e econômica foi tamanha que rendeu à região a primeira Indicação Geográfica Protegida de Santa Catarina, em 2012: IP Vales da Uva Goethe. Esta é uma certificação de autenticidade concedida pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). É a única região de procedência fora do Rio Grande do Sul e a única a se dedicar a uma uva híbrida.

A região delimitada dos Vales da Uva Goethe abrange, além de Urussanga, os municípios de Pedras Grandes, Içara, Cocal do Sul, Nova Veneza, Morro da Fumaça e Treze de Maio. Ah, e é no plural mesmo, pois são dois vales: o Vale do Rio Urussanga e o Vale do Rio Tubarão.

A uva Goethe é uma uva branca, que pode ficar com a casca rosada quando está bem madura.

Como descende de variedades da família Moscatel (de Alexandria, de Hamburgo e Schiava Grossa), em proporção bem maior que a variedade lambrusca (Isabel), vai originar vinhos muito aromáticos e frutados. Um leque de aromas pode ser encontrado: maçã, pêssego, maracujá, abacaxi, chamando a atenção as notas das brasileiras carambola, umbu e cupuaçu. Alguns vinhos brancos tranquilos têm notas salinas, que dão aquela característica que muitos associam com “mineralidade”. Tudo graças ao terroir único dos Vales da Uva Goethe, que dão a esta variedade um frescor exótico, ímpar e delicioso.

Visualmente, têm coloração amarelo palha, podendo ter reflexos esverdeados ou dourados, a depender da maturidade das uvas.

Por outro lado, nos vinhedos das encostas dos vales, as uvas Goethe podem adquirir uma coloração rosada como esta:

Assim, é possível também elaborar vinhos rosés a partir das uvas Goethe.

Na boca, os vinhos têm acidez média, são leves e agradáveis. Seu frescor harmoniza muito bem com pratos leves, como entradinhas, saladas, frutos do mar e queijos de pasta mole.
Além dos vinhos brancos, varietais (acima de 85% de uvas Goethe) e em cortes (uvas Goethe com outras uvas, especialmente a Chardonnay), secos e meio secos, vale lembrar que as uvas Goethe também produzem espumantes, pelos métodos charmat e tradicional, brut e demi-sec.

E vinho laranja? Sim, temos de uva Goethe! Para saber mais sobre vinhos laranjas, escrevi um artigo no QUE GOSTOSO! Para lê-lo, clique aqui.


Neste vinho, as uvas Goethe foram maceradas por oito dias com as cascas, o que trouxe mais estrutura, alguns taninos e um final de boca instigante.
E vocês, já provaram algum vinho com a pequena notável uva Goethe? Conte pra gente nos comentários.

Um brinde com um espumante brut da uva Goethe!
*LUCIA GRIMALDI, colunista de enologia do QUE GOSTOSO!, é sommelière formada pela ABS, graduada e pós-graduada em fonoaudiologia e direito e possui a certificação internacional Wine & Spirit Education Trust (WSET) nível 2. Contatos: grimaldipervino@gmail.com e o @grimaldipervino
Há este varietal também na serra gaúcha, nos caminhos de pedra, Bento Gonçalves, vinícola Salvatti e Sirena