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Casa troglodita expõe cultura bérbere tunisiana

por CLAUDIO SCHAPOCHNIK_Matmata/TUNÍSIA

Uma das partes que mais gostei na viagem à surpreendente Tunísia foi conhecer uma casa troglodita. A residência fica na cidade de Matmata, distante mais de 400 quilômetros ao Sul da capital, Túnis, e já em pleno deserto. Trata-se de uma habitação escavada nos morros e com um pátio interno.

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No alto a casa troglodita vista do pátio interno e, acima, a mesma vista do alto do morro onde foi escavada (fotos Claudio Schapochnik/Que Gostoso!)
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A localização de Matmata a partir da capital, Túnis: bem ao Sul, no deserto

A região visitada tem ainda a presença de outro povo no caldeirão tunisiano: os bérberes. Eles estão ali, e em vários países do Norte da África, há milênios. A palavra deriva do latim barbarus, que deriva de bárbaros, no grego antigo. Significado: não grego, portanto estrangeiro.

Com a dominação árabe-muçulmana, a partir do século 7, os bérberes passaram a praticar a religião islâmica. Ainda que falem e escrevam em árabe (e, imagino, francês), eles também têm seu idioma e alfabeto próprios, entre outras características que os definem como um povo. No Norte africano, a maior comunidade bérbere vive no Marrocos, com mais de 20 milhões de pessoas.

Boas Manieras em Arabe _ Claudio Schapochnik Que Gostoso

Portanto, a visita a Matmata, no grupo de agentes de viagens brasileiros parceiros da Flot Viagens do qual fiz parte, foi praticamente uma aula de etnografia — “Substantivo feminino; 1. estudo descritivo de grupos sociais, de suas características antropológicas, sociais etc; 2. registro descritivo da cultura material de um determinado povo” define o dicionário Houaiss.

Passei a gostar demais de etnografia ao ler, por exemplo, livros dos viajantes estrangeiros no Brasil-Colônia e Brasil-Império como Spix e Martius, Kider, Saint-Hilaire, D´Abbeville, Thevet, Von Koseritz, De Léry etc. Todos coeditados pelas editoras Edusp e Itatiaia. Super recomendo a leitura.

CASA TROGLODITA
Matmata localiza-se no deserto. Naquela altura do país, esse ecossistema árido ainda não é de um sem fim de dunas de areia fina — como define o imaginário do brasileiro em relação à palavra deserto —, mas ainda pontilhado por milhões de tufos de plantas. Uma placa no caminho anunciava a distância até Trípoli, na Líbia. Estava muito longe de casa…

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O deserto montanhoso na região de Matmata

O ônibus parou em frente a um morro e subo no alto do mesmo. E o que vi de lá de cima: um pátio com, grosso modo, entradas na pedra. Era a primeira vista de uma casa troglodita, como milhares que há em Matmata e outras cidades da região.

É preciso ver por cima para entender o conceito, de que os cômodos são escavados na montanha. “Uma casa dessa leva de quatro a seis meses de trabalho para ficar pronta, e todas têm água encanada, energia elétrica e registro no cartório”, explicou o guia de turismo do grupo, Kamel Khaled.

“Muitas pessoas preferem essas casas pela falta de material de construção e pelo conforto térmico”, emendou o guia. Segundo ele, as casas trogloditas já eram mencionadas no século 11 a.C..

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Kadija, em primeiro plano, a anfitriã, com Adriana Vercesi, da Travel Me Viagens (Jacareí/SP), Danielle Redivo, da DR Viagens e Turismo (Ribeirão Pires/SP), o guia de turismo do grupo, Kamel Khaled, o diretor da Flot, Eduardo Barbosa, Danielle Turchet, do Atelier de Roteiros, e Paola Karam, da Ask 1 Tour, ambas de São Paulo, caracterizados com roupas tradicionais bérberes

A CASA DA KADIJA
Depois de ver a casa troglodita por cima, desci o morro e entrei num curto túnel até chegar ao pátio. Um peixe azul ladeado por mãos de mesma cor enfeitam e protegem a residência com o mau-olhado, segundo a crença popular na Tunísia. Essa é a casa da Kadija e sua família.

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A entrada da casa troglodita e os amuletos contra o mau-olhado

No pátio vi várias aberturas. Cada uma é um cômodo: a sala de estar, a cozinha e assim por diante. Por serem escavados na montanha, não têm janelas.

O banheiro tem seu lugar independente, por questões que você, caro(a) leitor(a), pode imaginar. “Quando precisa usar o sanitário, o morador tem de se levantar e ir lá, seja à noite, com a temperatura baixa etc”, enfatizou Khaled.

Os cômodos têm sua decoração, são limpos e tudo é muito bacana, singelo. Deu pra perceber que a Kadija e sua família têm orgulho de sua cultura e de sua casa, que vivem felizes. Isso é o que vale.

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Criança (à dir.) no cômodo que parece ser a copa com a grande mesa

Assim como os árabes, os bérberes também recebem muito bem. Além de abrir sua casa a pessoas que nunca viu na vida, Kadija ofereceu comidinhas típicas. Ela serviu o grupo com pão de trigo caseiro fresquinho com cumbucas de azeite de oliva e mel, amêndoas torradas e chá de menta. “Peguem um pedaço, molhem no azeite e no mel e comam”, ensinou o guia Khaled.

Isso foi logo depois do almoço no Hôtel Les Berbères, também em Matmata, mas como negar a hospitalidade e o carinho bérberes? Jamais! Todos do grupo brasileiro se deliciaram com essa merenda. Que gostooooooso!

Houve ainda uma linda apresentação musical. Khaled e algumas agentes se vestiram com roupas da família que recebia o grupo. Foi algo muito bacana.

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Catarina Margini, da Rodritur (São Paulo), Olga Bridi, da Time Tour (São Paulo), Bianca Pereira, da GBond Travel Solutions (Rio de Janeiro), Carla Magalhães, da Outback Tur (Pouso Alegre/MG), Silvana Zanetti, da Zanetti Turismo (Santo André/SP), Paola Karam, Danielle Turchet, Massatomi Satake, da Satake Turismo (Mogi das Cruzes/SP), Hanan Gamal, da Alamia Turismo (Rio de Janeiro), e Fátima Pinto, da FG Viagens (Assis/SP)

Senti, pelo olhar pra Kadija, que não havia nenhum traço de artificial naquela recepção. Foi uma belíssima — e inesquecível — aula prática de etnografia, com educação e respeito. Chokran!

SERVIÇO:
Flot Viagens
Lufthansa
Turismo da Tunísia

O QUE GOSTOSO! viajou a convite da Flot Viagens, voando Lufthansa e com apoio do Ministério do Turismo e Artesanato da Tunísia, do Escritório Nacional de Turismo da Tunísia e da Gold Experiences, receptivo da operadora brasileira naquele país

Um comentário sobre “Casa troglodita expõe cultura bérbere tunisiana

  1. Sem dúvida este foi um momento incrível de poder conhecer uma cultura tão diferente do que estamos acostumados no Brasil. Suas matérias são maravilhosas e nos leva a reviver esta viagem incrível. Parabéns!

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