por CLAUDIO SCHAPOCHNIK
Começar uma história com temática da culinária francesa, a abertura do primeiro restaurante no final do século 18, falando de manteiga é a promessa (realizada e muito bem) de uma boa história cinematográfica. Exatamente é assim que começa a bela e gostosa produção Delicioso — Da Cozinha para o Mundo (Délicieux; França/Bélgica, 2021, 115 minutos, distribuição Playarte Pictures). O filme, que estreou nacionalmente na semana passada, tem direção do diretor francês Éric Besnard.

Na movimentada cozinha do castelo do duque de Chamfort (Benjamin Lavernhe), o competente, orgulhoso e “caxias” cozinheiro Pierre Manceron (Grégory Gadebois) diz “manteiga, manteiga!” logo na primeira cena.
Logo depois e em vários momentos do filme, Manceron, que seria hoje um chef à altura dos mais famosos do mundo, seguramente, sozinho ou com sua equipe manipulam os ingredientes e cozinham. Cenas filmadas com foco, profundidade e fotografia de grande beleza.
Próximo do início da Revolução Francesa (1789), Manceron é demitido da função de cozinheiro (numa cena humilhante) pelo duque de Chamfort e, junto com seu filho Benjamin (Lorenzo Lefebvre), parte para uma estalagem que já havia trabalhado — tipo de estabelecimento que iria dar origem aos hotéis como conhecemos hoje. A localização é em Cantal, nome de um Departamento na região Auvergne-Rhône-Alpes, no Sudeste da França, de natureza linda e bem preservada.

Lá Manceron conhece uma mulher surpreendente (Isabelle Carré), a marquesa de la Varennes, fugida da vida nobre, que deseja aprender a arte culinária ao seu lado, como que uma estagiária. Após relutar bastante, o cozinheiro a aceita.
A convivência com a marquesa traz novamente a autoconfiança a Manceron, e ele volta a cozinhar profissionalmente para receber os viajantes com sua, ao que parece vivamente, maravilhosa comida. A fama se espalha pelos arredores. Quase todo o dinheiro que o cozinheiro junta com a venda de suas refeições é pago como imposto.
Em determinado momento, Benjamin, num estalo empreendedor, sugere ao pai transformar a estalagem no que seria hoje um restaurante, com cardápio, pessoas para servir e mesas. Após uma resistência inicial, Manceron aceita a ideia e a aprimora junto com a marquesa. Nascia assim o restaurante.

Delicioso foi o filme mais assistido do Festival Varilux de Cinema Francês 2021.
O filme é belo, com cenas de cozinha e preparação de pratos que me deixaram salivar várias vezes, boas interpretações, locações lindas e gastronomia impecável. Se já fosse filmado com a tecnologia que permite gravar e emitir o cheiro, nossa!, a experiência seria perfeita.
Tenho certeza que esta tecnologia está sendo pesquisada e é questão de (pouco) tempo estar disponível. Será aquela revolução tecnológica.
Recomendo assistir Delicioso — Da Cozinha para o Mundo. Que gostooooooso!