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Cozinha judaica do Shoshana volta repaginada

Fechado desde o final de 2020, o último restaurante judaico do Bom Retiro, na região central de São Paulo, o Shoshana Delishop voltou à operação no início deste mês de setembro. Sob nova administração, o endereço foi reformulado, assim como o cardápio, e agora assume o nome pelo qual sempre foi informalmente conhecido: Shoshana.

Fundado em 1991 pelo casal Adi e Shoshana Baruch, o restaurante nasceu como um negócio familiar, mas agora é tocado por uma iniciativa coletiva. À frente do empreendimento, um grupo de mais de 25 sócios é liderado por três amigos que se conheceram no Bom Retiro, cada um trazendo a sua expertise profissional no projeto: Benjamin Seroussi, diretor executivo do Centro Cultural Casa do Povo, que fica na vizinhança; Inês Mindlin Lafer, que atua em várias associações focadas em projeto coletivos e comunitários de investimento social; e Arthur Hirsch, nascido e criado no Bom Retiro, ele foca em estratégia de negócios e é sócio da Carlos Pizza.

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No alto, alguns dos pratos do novo Shoshana e, acima, a entrada do restaurante no bairro do Bom Retiro, em São Paulo (fotos Laís Acsa)
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A porção de hering (arenque) está na cozinha judaica do Shoshana

COZINHA DA DIÁSPORA
“Os atuais proprietários conversam frequentemente com a família Baruch e estão determinados a preservar a memória desse patrimônio paulistano”, enfatiza a nova gestão por meio de um comunicado.

No processo de elaboração do novo cardápio, Shoshana Baruch e seu filho, Nir, compartilharam as receitas originais com a chef e pesquisadora Clarice Reichstul, da Paca Polaca.

“O menu proposto guarda alguns dos pratos clássicos de Shoshana, caso da língua bovina e do famoso pudim de leite da fundadora, mas também traz inovações. O último restaurante judaico do Bom Retiro não poderia morrer, mas não precisa ficar parado no tempo. Não vou desconstruir receitas, mas adotar um olhar mais atual”, explica Clarice.

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A chef e pesquisadora Clarice Reichstul é consultora da nova casa
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A chef do Shoshana, Graziela Tavares

Ao repensar o que seria servido, Clarice aprofundou sua pesquisa na comida judaica da Diáspora. “Nosso cardápio não é exclusivamente askenazi [judeus da Europa do Centro, Leste e Norte], nem sefardita [judeus da Península Ibérica e de países banhados pelo Mediterrâneo], nem israelense. Há influência de todos os lugares onde há ou houve uma presença judaica”, explica ela.

“O resultado é esse menu chamado de ´diaspórico´. Enxuto, com entradinhas e pratos para compartilhar de forma despretensiosa, no almoço ou jantar, a ideia é funcionar como um boteco judaico paulistano.”

Quem toca a cozinha judaica do Shoshana no dia a dia é a chef Graziela Tavares, que comandou o extinto bar Sabiá, na Vila Madalena, também em São Paulo. Vale lembrar que, como orienta a tradição judaica, os preparos não levam nenhuma carne suína nem frutos do mar.

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Prato de latkes é outra opção na cozinha judaica do Shoshana

ENTRADAS
Entre as delícias judaicas do cardápio, no caso para entradas, há o guefilte fish (R$ 18), tradicional bolinho de peixe cozido com molho de raiz-forte e beterraba, e o mishmash (R$ 24), patês de fígado de galinha assado e de ovo com schmaltz (gordura da ave), servido com pão pita.

Outras opções para petiscar ou abrir o apetite são o corned beef (R$ 45), peito de boi marinado e cozido com especiarias, o hering (arenque) temperado com cebola e pimenta da Jamaica (R$ 35) e os Latkes (a partir de R$ 18), panquequinhas fritas de batata e schmaltz, servidas com ricota caseira.

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Prato de mishmash

“No processo de atualização do menu houve um cuidado para que a oferta de receitas vegetarianas e veganas fosse robusta”, enfatiza a casa.

Entre as veganas estão a salada de batata (R$ 20), além dos picles do dia (R$ 13), que serão preparados com legumes da estação, aljouk de potiron, uma pasta de abóboras assadas com pimenta harissa servida com pão pita (R$ 22). Borscht (R$ 26), sopa de beterraba caramelizada, fria ou quente, com creme azedo, e o caldo com kneidalach (R$ 30), as bolinhas de matzá (pão ázimo, feito apenas de farinha de trigo e água) em versão tradicional, no caldo de galinha, ou de cogumelos, para os veganos.

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O borscht da casa

PRINCIPAIS
Da cozinha, saem pratos como a língua da shoshi (R$ 46), receita da fundadora na qual a língua bovina é servida em companhia de varenikis recheados de batata e salada da casa (folhas, brotos e ervas com vinagrete de limão e mostarda).

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O prato de língua da shoshi: ícone da cozinha judaica do Shoshana

Outra especialidade da matriarca da família Baruch que foi mantida é a shpondre (R$ 69), uma costela ponta de agulha cozida, servida com ferfele (tipo de massa puxada no schmaltz com cebola caramelizada) e salada da casa. Há ainda schnitzel de frango (R$ 35) e schnitzel de berinjela temperada com gergelim, tahine e sumac (R$ 32) — qualquer uma das versões ganha companhia de saladas de batata e dill, de repolho e da casa.

DRINQUES
Para acompanhar, há uma interessante carta de drinques, que foi criada por Günter Sarfert. Ele fez “um verdadeiro mergulho na cultura judaica, explorando vários ingredientes fundamentais como vodka, mel e picles, dentre outros”.

Além disso, traz receitas de licores típicos do Leste Europeu, como o krupnik, e criou coquetéis que homenageiam figuras importantes do povo judeu.

“Também contaremos com uma carta de clássicos, para atender a todos os gostos e bolsos.”

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Günter Sarfert finaliza um de seus drinques

BOTECO
Às sextas, a partir das 17h, é oferecido o chamado “boteco do Shabat”, em referência ao dia do descanso semanal judaico, que começa no pôr-do-sol da sexta e segue até o pôr-do-sol do sábado.

Nesse dia, são servidos tira-gostos especiais como: guefilte fish frito, sanduíche de berinjela aperitivo (vegano), sanduíche de corned beef aperitivo, canapé de língua, roll-mops (rolinho de arenque e picles), shot de borscht, shot de sopa de tomate (vegano).

“Nesse dia, o funcionamento é um pouco diferente: se por um lado, as mesas são cobertas com toalhas brancas com as velas do Shabat, por outro lado, o clima lembra a informalidade de um boteco paulistano.”

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O delicioso pudim: receita original mantida na nova gestão

TCHULENT E SHAKSHUKA
No sábado também é servido um prato especial: o tchulent (R$ 44), um cozido de carnes e linguiças bovinas frescas com feijões branco e fradinho, cevadinha e fava.

Aos domingos é servido pratos de brunch. Aí o cardápio contempla shakshouka (ovos moles cozidos em milho de tomate e especiarias), tostada de hering e manteiga e de beterraba assada e ricota caseira, bolos, salada de frutas com granola e iogurte e outras sugestões.

Em breve, a reportagem do QUE GOSTOSO! vai almoçar na nova casa. O site já esteve no buteco do Shabat, a convite do restaurante, e adorou. A volta do Shoshana é muito importante não apenas no contexto judaico do Bom Retiro, mas para a gastronomia de São Paulo. Vida longa ao Shoshana!

SERVIÇO:
Shoshana Delishop
Rua Correia de Melo, 206, Bom Retiro, São Paulo/SP
Horário: terça a quinta, 11h30 às 15h; sexta, 11h30 às 15h e 17h às 23h; sábado, 11h30 às 17h; domingo, 10h às 16h; fecha segunda
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