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O papel da gastronomia na promoção do Guarujá

por CLAUDIO SCHAPOCHNIK

A gastronomia ocupa um papel importante na promoção turística do destino Guarujá, município a cerca de 100 quilômetros de São Paulo e situado no litoral Sul do Estado. Entre os motivos, há uma excelente oferta de bares e restaurantes, bons profissionais ligados ao setor da Restauração e, quanto aos insumos, claro, baseado sobretudo nos peixes e frutos do mar frescos.

A combinação dessa culinária com as 27 praias da cidade — as tradicionais, digamos assim, e as exclusivas, abertas ao público porém com acesso apenas de canoa ou lancha —, com a esplêndida natureza cada vez mais salientada e protegida, com as Áreas de Proteção Ambiental (Apa) por exemplo, e os demais atrativos turísticos, como o lindo Mirante das Galhetas, que dá vista para a Praia do Tombo (única Bandeira Azul paulista), fazem do Guarujá um excelente destino para o público e as empresas.

Nesta entrevista, sobre o destino e, principalmente sobre aspectos da culinária local, conversei via email com a mais guarujaense das paranaenses que conheço. É a Sandra Chiamulera, gerente do Guarujá Convention and Visitors Bureau (Visite Guarujá). Ela nasceu em Assis Chateaubriand — no Oeste do Paraná e distante 580 quilômetros de Curitiba — e vive há exatos 30 anos no Guarujá. “Minha família é toda do Sul do Brasil. Vim com meus pais e minhas irmãs ainda criança”, recorda. Conheci a Sandra no mês passado quando visitei o município, a convite do CVB e de alguns associados, para fazer reportagens sobre a oferta gastronômica e os atrativos da cidade. Ela é uma gentlewoman.

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No alto a Praia do Tombo, única Bandeira Azul do Estado de São Paulo (foto Visite Guarujá), e, acima, a gerente do Visite Guarujá, Sandra Chiamulera, e a presidente da entidade, Maria Laudenir de Oliveira, a Lau (foto Visite Guiarujá)

Muito simpática e capacitada, além de apaixonada pela “Pérola do Atlântico”, Sandra é graduada em turismo em uma das primeiras turmas da Faculdade do Guarujá. Está no Visite Guarujá desde 2006 — um ano após a fundação da CVB, ocorrida em 25 de novembro de 2005.

Em 2014, Sandra fez sociedade com a antiga diretora do Visite Guarujá em uma pousada na Praia do Guaiúba — linda e cercada de morros cobertos de mata. “Administramos o estabelecimento até 2018. Neste período de nosso gerenciamento, foi a primeira no Trip Advisor”, lembra ela. “Foi, com certeza, uma oportunidade incrível nas nossas vidas, de muito aprendizado. Inclusive, foi a partir dessa experiência, que fui convidada a ministrar aulas de hotelaria aos aprendizes do Sofitel Guarujá Jequitimar“, emenda a executiva, com orgulho.

“Estou indo para a minha terceira turma. A turma atual se formará no final desse mês de outubro e tivemos três aprendizes contratados pelo hotel, o que para mim é motivo de muito orgulho.”

Nesta entrevista, Sandra fala do Visite Guarujá e dos projetos em relação à gastronomia, entre outros temas ligados ao turismo na cidade. Até um prato típico está na pauta, além de eventos que contemplam duas frutas: a banana e a pitanga. Confira abaixo.

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Peixes e camarões em mercado na Praia do Perequê (foto Claudio Schapochnik/Que Gostoso!)

QUE GOSTOSO! — Há quanto tempo foi fundado o Visite Guarujá? Quais são as principais atribuições do órgão? Atualmente há quantos associados e, destes, quantos são da área da Gastronomia?
Sandra Chiamulera — A fundação ocrreu em 25/11/2005. Somos uma entidade sem fins lucrativos e mantida pela Iniciativa Privada. Temos associados de vários segmentos turísticos do Guarujá, como Hotelaria (os mais importantes da cidade são associados), restaurantes, bares, serviços de receptivo como agências, operadoras, de transporte, associações, ONGs e comércio em geral, entre outros serviços que agregam valor aos visitantes. Atualmente, temos por volta de 70 membros.

QUE GOSTOSO! — Atualmente, qual é o número de meios de hospedagem e leitos na cidade?
Sandra — Aproximadamente 9 mil leitos, distribuídos em dois resorts, hotéis de grande, médio e pequenos portes, pousadas, hostels e flats.

QUE GOSTOSO! — Qual foi e é a estratégia do Visite Guarujá em promover o destino numa pandemia?
Sandra — Focamos nas nossas mídias sociais, site, promovendo não apenas o destino Guarujá, mas todos os nossos associados. Uma das estratégias para não perder associado foi diminuir o valor da mensalidade neste período. Resultado: conseguimos até ganhar novos associados.

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A Praia da Enseada, a maior do Guarujá com quase seis quilômetros de extensão (foto Visite Guarujá)

QUE GOSTOSO! — Além do carro-chefe sol e praia, quais são os outros nichos da cidade que o Visite Guarujá trabalha?
Sandra — Definitivamente Guarujá é um destino com vocação ao ecoturismo, turismo de aventura, e, recentemente, com a criação da segunda Unidade de Conservação Municipal (UCM), a Área de Proteção Ambiental (APA) Serra de Santo Amaro, juntamente com a APA Serra de Guararu, demos um passo decisivo para implementar o Corredor Ecológico – o qual colocará Guarujá na vanguarda do que se refere à proteção ambiental no País.

QUE GOSTOSO! — As pessoas têm noção de que o Guarujá é uma ilha e, mais espetacular ainda, que a natureza deu a forma de um dragão à essa ilha? O Visite Guarujá pretende trabalhar isso como marca?
Sandra — Sempre quando participamos de feiras, tanto nacionais como internacionais (mercado Mercosul), e apresentamos aos agentes de viagens e operadores o formato da nossa ilha, percebemos a curiosidade de todos em saber um pouco mais sobre. Pois bem, temos tentado trabalhar no sentido de criar uma marca inédita ao Guarujá, pensando no fato do dragão (ilha) protegendo a “Pérola do Atlântico”, nome dado à nossa ilha em meados da década de 1970.

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A figura do dragão da Ilha de Santo Amaro (em vermelho), onde fica o Guarujá (imagem/Google Maps)

QUE GOSTOSO! — Esse slogan, “A Pérola do Atlântico”, ainda é usado de alguma forma? Você sabe um pouco da história dele? Qual é a opinião do Visite Guarujá?
Sandra — O nome Guarujá vem da língua tupi (Guaru-ya) e quer dizer “passagem estreita”. Talvez por conta da pequena porção de mar que separa a Ilha de Santo Amaro do continente.
A cidade de Guarujá, situada na Ilha de Santo Amaro, foi visitada pela primeira vez no dia 22 de janeiro de 1502 pelos exploradores portugueses André Gonçalves, Américo Vespúcio e suas armadas. Mais precisamente, essa visita ocorreu na parte ocidental da ilha, conhecida atualmente como Praia Santa Cruz dos Navegantes. Com o passar do tempo as pessoas que viviam dessa economia foram formando um pequeno povoado, sendo assim, por um decreto imperial de 1832, Guarujá passou a condição de Vila.
Em 1893, Guarujá foi promovida à Vila Balneária de Guarujá. Para isso, foram encomendados dos Estados Unidos um hotel, uma igreja, um cassino e 46 chalés residenciais desmontáveis. Além de receber serviços de água, esgoto e luz elétrica.
Em 30 de junho de 1934 a cidade recebeu o título de Estância Balneária e, em 1947, passou a ser considerada município, devido ao crescimento contínuo.
Com uma natureza exuberante espalhada por 27 praias, com belezas totalmente diferentes que atraem turistas para a região. Guarujá ficou reconhecido internacionalmente como um destino turístico paradisíaco, na década de 1970, com o título de a “Pérola do Atlântico”.
Desde então, carregada esse título por preservar mais de 65% do território como Área de Proteção Ambiental (APA) e fomentar o desenvolvimento sustentável, pautado no diálogo transparente da sociedade civil organizada com o poder público, em todas as esferas.
Criado há 15 anos, o Guarujá Convention and Visitors Bureau articula ações planejadas para fomento da atividade, com investimentos compatíveis aos recursos naturais preservados, na flora, fauna e riqueza cultural caiçara.
Foco na excelência dos serviços mantém o brilho da “Pérola”, atualmente conhecida como a Ilha do Dragão (verde), que protege a “Pérola” e nos garante a Bandeira Azul, na Praia do Tombo, por mais de uma década; administrar as APAs com intensa e qualificada participação da comunidade na gestão ESG, apoiada em estudos científicos de instituições renomadas; resgatar o sentimento real e prazeroso de pertencimento; formar embaixadores do turismo sustentável em Guarujá; criar infraestrutura hospitaleira capaz de superar expectativas dos mais exigentes dos hóspedes e, ainda, construir mirantes com vistas e opções à pratica de esportes e aventuras seguras.

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Sandra em feira promovendo o destino paulista (foto Visite Guarujá)

QUE GOSTOSO! — A oferta gastronômica é uma das riquezas da cidade. Como você analisa essa oferta sobretudo para o turismo?
Sandra — Certamente Guarujá tem uma gastronomia muito rica, com cozinhas tradicionais caiçaras até internacionais e de renome mundial. Neste sentido, temos muito a oferecer a quem nos visita. Quem saboreia, aprecia. Que gostoso!

QUE GOSTOSO! — O Guarujá tem algum prato típico reconhecido por lei municipal? Se não, há alguma ideia a caminho que teria o apoio do Visite Guarujá?
Sandra — Não temos um prato típico que podemos dizer que é do Guarujá. No entanto, temos um projeto de reunir os principais chefs gastronômicos da cidade para que eles entrem em um consenso sobre a escolha do prato eleito. O que podemos afirmar é que a base da culinária de nossos restaurantes são os peixes e os frutos do mar.

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Camarões no mercado na Praia do Perequê (foto Claudio Schapochnik/Que Gostoso!)

QUE GOSTOSO! — O Guarujá também é um ótimo destino gastronômico, representado pela excelência de muitos bares e restaurantes. Como você analisa esse fato e como o turista vê esse movimento?
Sandra — De extrema importância para o destino, nossa infraestrutura gastronômica é destaque entre os principais restaurantes da região e isso com certeza é um atrativo para os amantes da boa mesa. Não é incomum, recebermos executivos de outras cidades próximas que nos vistam para almoçar, inclusive de helicóptero.

QUE GOSTOSO! — Nos eventos e nas atividades do Visite Guarujá, o segmento da Gastronomia está sempre presente e é discutido?
Sandra — Sempre! Inclusive temos na nossa diretoria um representante desse segmento, que nos ajuda a definir os próximos passos. Realizamos fóruns, encontros e festivais gastronômicos, e a troca e informações é sempre muito enriquecedora para todos.

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Sandra está no Guarujá CVB desde 2006 (foto Visite Guarujá)

QUE GOSTOSO! — Nesta viagem que fiz, conversamos sobre uma ideia do Visite Guarujá ligada à banana, em parceria com outros atores. Você pode contar agora para o público o quão interessante é?
Sandra — Em meados da década de 1950, foi realizado no Guarujá o 1º Festival Nacional da Banana. O evento visou o desenvolvimento da produção da fruta, por meio de políticas públicas, do incentivo e da assistência à Iniciativa Privada. Durante a realização do festival houve na cidade, além das sessões de estudo e debate, iniciativas paralelas, como a Exposição de Produtos da Banana, desfile de carros alegóricos e a eleição da Rainha do Festival. A comissão organizadora foi integrada pelos prefeitos de São Vicente, Itanhaém, Guarujá, Cubatão e Santos (por delegação das prefeituras de todo o litoral do Estado de São Paulo).
Por conta dessa rica história, pretendemos criar algo para fomentar a cultura da cidade e quem sabe, utilizar dessa matéria prima, no segmento gastronômico, por meio de um evento que poderá fazer parte do calendário turístico anual.

QUE GOSTOSO! — No Guarujá é possível fazer a modalidade de turismo gastronômico na qual o turista visita uma propriedade, vê o que é produzido (agropecuária, algum produto comestível) ou pescado e depois faz a degustação? Se não, há interesse no Visite Guarujá em fomentá-lo?
Sandra — Com a criação do corredor ecológico, Guarujá oferecerá, de cabo ao rabo da Ilha do Dragão, circuitos turísticos sustentáveis e regenerativos. A segmentação da demanda desaglomera a ocupação e assegura oferta de serviços sob medida.
Antecipo que estamos estudando como viabilizar visitas à fazenda de búfalos, localizada no espaço rural de Guarujá. A produção de laticínios pode vir compor atrativo turístico. Estamos em fase de estudo, como comentei.
O que é bem rotineiro por aqui são os banhistas degustarem frutos do mar e peixes. Assim, eles geram mais oportunidade de trabalho e renda para as famílias da comunidade pesqueira residente. São nativos.
Não raro, turistas também alugam embarcações credenciadas para pescarias ou visitam outras praias em canoas havaianas e, nesses passeios, visitam a diversidade de biomas, inclusive se os passeios forem em igarapés, nos mangues, a canoa ou caiaque.
Em ambos os casos, as propriedades visitadas são os restaurantes, bares e quiosques, onde a qualidade no preparo das porções é de dar água na boca. Há divergências sobre quem é que faz as melhores caipirinhas e batidas nas praias em que esse tipo de serviço é credenciado que recomenda e pratica: lugar do lixo é na lixeira certa. Nativos e visitantes agradecem.

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O Mirante das Galhetas, de onde dá para ver toda a Praia do Tombo: imperdível (foto Visite Guarujá)

QUE GOSTOSO! — Quais são os projetos do Visite Guarujá onde a gastronomia é protagonista?
Sandra — O Projeto “Embaixadores do Turismo Sustentável” promove “Viva Guarujá o Ano Todo” e foca na gastronomia e nos atrativos turísticos da cidade também fora do período das férias escolares.
Anunciaremos a data da edição do Fórum de Turismo & Gastronomia (FT&G) 2021 ainda em outubro.
Temos em estudo, também, além do vínculo histórico da banana com a identidade do destino, a melhor data para realizarmos a festa das pitangueiras, árvore nativa que deu o nome à Praia das Pitangueiras.
Em breve, o Comtur deliberará sobre o calendário de eventos oficiais de 2022. Nós queremos gerar sinergia com o calendário de eventos articulado para as nove cidades da região da Costa da Mata Atlântica.

QUE GOSTOSO! — Para 2022, esperamos com o fim da pandemia, o Visite Guarujá deve voltar a organizar eventos onde entra a gastronomia?
Sandra — Também esperamos, mas posso adiantar que na edição anual do nosso próximo FT&G, respeitando todos os protocolos, realizaremos ao menos um dia de evento presencial.

QUE GOSTOSO! — Por favor, quer comentar algo que não perguntei? Se sim, aqui é o espaço.
Sandra — Pretendemos trabalhar com a conscientização dos estudantes dos ensinos Médio e Fundamental, para que eles tomem consciência da importância do turismo em nossa cidade, criando o projeto “Embaixadores do turismo sustentável”.

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