Farofa de içá (formiga) é iguaria indígena crocante Foto 3 Claudio Schapochnik_Que Gostoso

Farofa de içá (formiga) é iguaria indígena crocante

por CLAUDIO SCHAPOCHNIK

Já tinha ouvido falar e visto uma reportagem na televisão sobre a caça e, sobretudo, a degustação da formiga içá como a estrela de uma farofa típica de origem indígena do Vale do Paraíba, no interior de São Paulo. Recentemente tive a oportunidade de comê-la. É boa. Que gostooooooso!

Foi minha segunda experiência em comer insetos. A primeira foi num hotel no México, anos atrás. No cardápio havia grilos assados. Entre estes e as içás, fico com as formigas. Motivo: a crocância.

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No alto, a porção da farofa de içá vendida no Revelando São Paulo e, acima, a barraca da cidade de Silveiras, onde ficou o pessoal do Trempe Restaurante no evento (fotos Claudio Schapochnik/Que Gostoso!)

Comi a farofa de içá na barraca da cidade de Silveiras, que dista pouco mais de 200 quilômetros da capital, no evento de gastronomia e cultura paulistas Revelando São Paulo, no ano passado. O festival ocorreu no Parque da Água Branca, em Perdizes, na Zona Oeste da cidade.

Na barraca estava o chef do Trempe Restaurante, Mateus Araújo, que fica na área rural de Silveiras. O estabelecimento é um dos guardiões da receita da farofa de içá. Ele serve a iguaria o ano todo no seu estabelecimento de cozinha caipira, com forte influência da cultura tropeira.

Também conhecida por tanajura, a içá faz parte da família de formigas saúva, do gênero Atta. A comestível é a fêmea.

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O chef Mateus Araújo exibe a farofa de içá na barraca

“As formigas são caçadas nos meses de outubro e novembro. Aproveitamos apenas o abdome, que são fritos na banha de porco no fogão à lenha. Aí acrescentamos a farinha de mandioca e os temperos”, explicou Araújo ao QUE GOSTOSO!.

O chef, que nasceu em Silveiras, conta que os portugueses e, depois, os tropeiros, adquiriram o hábito de comer as içás dos indígenas da região. Essas formigas são ricas em proteína e gordura.

“Os indígenas comiam as içás tostadas numa panela de barro, e o que conhecemos hoje, como ingrediente de farofa, foi uma da adaptação dos colonizadores e depois dos tropeiros.”

Hoje, destacou Araújo, o prato faz parte da identidade cultural do Vale do Paraíba.

Graciosamente, Araújo me deu uma porção da farofa para provar. O prato leva ainda folhas de ora-pro-nobis e cebolinha picada. As içás têm uma cor preta bastante intensa.

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Em preto, as içás na farofa

Na primeira mastigada já senti o crocante – e põe crocante nisso – das formigas. Que gostooooooso! Lembrou um pouco, nesse quesito, quando mastigo o piruá – aquele grão de milho que não estourou e, portanto, não virou pipoca.

Não senti um gosto específico da içá frita, só mesmo a sensação gostosa do crocante. É diferente. Recomendo, sim, pelo menos uma vez.

Quem é de fora de Silveiras ou não pode ir nos eventos onde o Trempe Restaurante participa, como foi o caso do Revelando São Paulo, pode comprar a farofa de içá que o chef Araújo despacha para todo o País. Para mais informações, consulte os canais abaixo.

Fiquei com uma grande vontade de ir ao Trempe e provar os demais pratos caipiras e tropeiros e as pizzas. Parece que são pra lá de excelentes. Preciso agendar!

SERVIÇO:
Trempe Restaurante
Fazenda Tropeiro, Vila Esperança, Silveiras/SP
Whatsapp: (12) 98182-3161
Horário: sexta, sábado e domingo, 12 às 16h (restaurante) e 18h às 22h (pizzaria)
www.tremperestaurante.com.br
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