por CLAUDIO SCHAPOCHNIK_Hammamet/TUNÍSIA

O mau-olhado é levado muito, muito a sério na Tunísia. Faz parte da tradição local, onde 99% da população tem fé muçulmana, fazer o possível para evitar e se proteger desse olhar que canaliza más energias e maus pensamentos, como a inveja. Uma das proteções que mais vi nesse lindo e encantador país, olha que interessante, foi o peixe — um símbolo reconhecidamente cristão. Lembre-se que a religião islâmica nasceu depois de 600 anos do nascimento de Jesus Cristo.

Como símbolo cristão, o peixe tem uma explicação bem interessante e super difundida na internet, não sei se é a única.

“Porque as letras que formam a palavra ´peixe´ em grego, quando escritas em maiúsculas (ΙΧΘΥΣ), formam um acrônimo com as iniciais da expressão ´Iēsous Christos Theou Yios Sōtēr´, que significa ´Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador´ (em grego antigo: Ἰησοῦς Χριστός, Θεοῦ ͑Υιός, Σωτήρ)”, explica um texto bem bacana no site Aleteia.

O peixe está presente ainda no judaísmo. Segundo as regras alimentares judaicas, o animal só pode ser consumido se tiver escamas e barbatanas ao mesmo tempo, portanto peixes de couro são proibidos.

Em relação ao significado judaico do peixe, que está na mesa do jantar de Yom Kipur, o Dia do Perdão, encontrei algo como proteção também. Nessa refeição há uma passagem do Talmud que deve ser recitada em hebraico, segundo informa Chana Helen Rosenberg no artigo que assina chamado Alimentos Simbólicos.

“Yehi Ratson milefanêcha shenifrê venirbê cadaguim; vetishgach alan beená pekichá. Possa ser Tua vontade que nós nos frutifiquemos e nos multipliquemos como peixes; e cuida de nós com olho aberto [atentamente].”

A cabeça de peixe ou de carneiro ou ainda uma língua bovina deve estar presente e ser comida. “Costuma-se ingerir um destes alimentos para que sejamos cabeça e não cauda”, conta Chana.

“Yehi Ratson milefanêcha shenihyê lerosh velô lezanav. Possa ser Tua vontade que sejamos como a cabeça e não como a cauda”, diz o Talmud.

Numa nota de roda-pé do livro que atualmente leio, D. Pedro II na Terra Santa — Diário de Viagem 1876 (Editora e Livraria Sêfer, 1999, 182 páginas), o autor, Reuven Faingold, cita o Dicionário de Símbolos para uma passagem interessante sobre o tema.

“Segundo as tradições muçulmanas, ´o mau-olhado é a causa de metade da humanidade. O mau-olhado esvazia as casas e enche as tumbas´. O indivíduo que possui mau-olhado é denominado em árabe ma´ian.”

Só não ouso afirmar que o peixe na cultura islâmica usado como amuleto contra o mau-olhado tenha raízes judaicas, cristãs, judaico-cristãs ou outras.

Na Medina da cidade de Hammamet, um lindo balneário à beira do Mediterrâneo e distante cera de 70 quilômetros a Sudeste da capital, Túnis, os peixes abundam. Não aqueles para comer, mas aqueles desenhados nas portas das casas para proteger as famílias que vivem naquele endereço contra o mau-olhado.

E o bacana é que esses peixes protetores ganham contornos de obras de arte, pois são, muitas vezes, desenhos bonitos e coloridos. Estava no local junto com um grupo de agentes de viagens brasileiros, que visitou a Tunísia no início do mês passado a convite da operadora de turismo Flot Viagens.

Então o passeio, super agradável e recomendável, de caminhar na Medina vira uma espécie de visita a uma exposição artística de peixes.

Fora que a Medina é muito tranquila, também distante anos-luz nesse quesito da Medina de Túnis. Praticamente todas as fachadas são pintadas de branco. No caminho estão as casas e lojas de artesanato, as portas diferentes e mais outros detalhes que só estando lá para captar. Passeio “obrigatório”.

SERVIÇO:
Flot Viagens
Lufthansa
Turismo da Tunísia

O QUE GOSTOSO! viajou a convite da Flot Viagens, voando Lufthansa e com apoio do Ministério do Turismo e Artesanato da Tunísia, do Escritório Nacional de Turismo da Tunísia e da Gold Experiences, receptivo da operadora brasileira naquele país