Um mundo de borbulhas

por Lucia Grimaldi*

Olá, internautas amantes do vinho! Conforme prometido na última matéria, falarei um pouco sobre os métodos de elaboração dos vinhos espumantes e sobre a máxima de que “todo champagne é um espumante, mas nem todo espumante é um champagne”. E então: borbulhando de curiosidade? Então, vamos mergulhar neste perlage!

Eu degustando um espumante no rio São Francisco

ESPUMANTE É VINHO?
Sim, os espumantes são o resultado da fermentação do mosto da uva e, portanto, são vinhos. Mas, diferentemente dos vinhos tranquilos, os espumantes são fermentados duas vezes. E é a segunda fermentação, na própria garrafa ou em tanques, o que possibilita a formação das inconfundíveis bolhinhas. Como assim?

É que na primeira fermentação, quando as leveduras transformam o açúcar do mosto da uva em álcool, o gás carbônico produzido nesta reação química é liberado e dissipado. Já na segunda fermentação, o gás carbônico produzido é impedido de sair, devido à vedação da garrafa e dos tanques, e acaba por se dissolver na bebida, formando as bolhas conhecidas por perlage.

Portanto, os vinhos tranquilos são assim chamados porque não têm bolhas, mas os vinhos espumantes são efervescentes, formando uma certa “espuma”… E, cá pra nós, o termo vinho espumante é bem melhor do que seria se fosse “vinho nervoso”.

Há várias histórias sobre a origem do espumante, mas a que mais gosto é aquela que conta que o espumante surgiu por acaso e de forma espontânea. Vinhos guardados tiveram uma segunda fermentação quando a temperatura ambiente subiu e reanimou as leveduras que estavam adormecidas pelo frio.

De repente, a adega parecia um festival de fogos de artifício, com pequenas explosões de rolhas, que pulavam da garrafa em razão do aumento da pressão do gás carbônico produzido nesta segunda fermentação. Imaginem a cara dos vinicultores ao verem aquilo!!! Com o passar do tempo, o fenômeno foi estudado, analisado e aprimorado, originando diferentes técnicas de elaboração do espumante.

Os vinhos espumantes, assim como os tranquilos, podem ser brancos, roses ou tintos, elaborados por uma única casta ou por diversas, além de ter níveis de doçura também variáveis: doces, meio doces, secos, meio secos e extrassecos.

MÉTODOS DE ELABORAÇÃO DOS VINHOS ESPUMANTES
O método tradicional ou champenoise, também chamado de método clássico, consiste em promover a segunda fermentação dentro da própria garrafa do espumante. A produção é mais elaborada, artesanal e envolve processos delicados e de custo bem elevado, como a remuage, que é a delicada movimentação das garrafas da posição horizontal para a vertical, manualmente ou mecanicamente. Os vinhos espumantes assim produzidos são de qualidade e complexidade muito elevadas e, frequentemente, têm sabores de pão brioche e torrada, graças a um contato mais prolongado com as leveduras.

Lanson Black Label Brut. Champagne francesa da Maison Lanson produzida na região de Champagne, França. À venda na Cantu Importadora (fotos Lucia Grimaldi)
La Belle Blanche. Vinho espumante brut rosé elaborado pelo método tradicional no Brasil. O termo champenoise aparece no rótulo (ver abaixo)
Destaque para o contra-rótulo deste maravilhoso espumante, um exemplo de consideração da Enos Vinhos de Boutique pelo seu consumidor: sugestões de consumo, dicas de harmonização, castas utilizadas e sabores esperados à degustação. À venda na Vinhos de Boutique
Cavas Hill 1887. Vinho espumante semi seco branco elaborado pelo método tradicional na Espanha. Recebe o nome Cava: é o “champagne” espanhol. À venda na Cantu Importadora

Pois bem: mostrei três vinhos espumantes elaborados pelo método tradicional, mas apenas um foi chamado de “champagne”. Por quê? Porque somente os espumantes produzidos dentro do território compreendido pela denominação de origem protegida de Champagne, localizada no Nordeste da França, podem ser chamados de “champagne”. Isto significa que as uvas deverão ser colhidas e vinificadas ali mesmo.

No mundo do vinho, as denominações de origem protegida são áreas territoriais delimitadas, que obedecem a um conjunto de regras e normatizações para a produção do vinho. O champagne somente pode ser elaborado pelo método tradicional, utilizando as castas chardonnay, pinot noir e meunier, as quais são colhidas manualmente. É por isso que todo champagne é espumante, mas nem todo espumante é champagne!

Já no método de tanque ou charmat, a segunda fermentação do vinho ocorre em grandes tanques selados, o que faz dele amplamente utilizado na produção de vinhos espumantes. Após esta segunda fermentação é engarrafado sob pressão. Apesar dos custos mais baixos e da menor exigência quanto à mão de obra, se comparado ao método tradicional, é muito importante salientar que espumantes de alta qualidade podem ser produzidos por este método, dependendo diretamente da seleção cuidadosa das uvas utilizadas e do esmero na sua produção. A maioria dos vinhos espumantes elaborados pelo método de tanque privilegia os aromas e os sabores frutados.

Casa Perini Brut Rosé. Vinho espumante brut rosé elaborado pelo método de tanque no Brasil. O termo charmat aparece no rótulo. À venda na Ingá Vinhos
Seivalby Miolo. Vinho espumante brut rosé elaborado pelo método de tanque no Brasil. Neste vinho, o termo charmat não é mencionado no rótulo. A expressão “espumante natural” indica que não foi acrescido açúcar após a fermentação, havendo pouco ou nenhum açúcar residual. Na Miolo

Além destes dois principais métodos de elaboração dos vinhos espumantes, há outros menos populares:

Método de transferência: é uma simplificação do método tradicional, possibilitando a produção de espumantes de qualidade a preços mais convidativos. O processo de elaboração do vinho espumante é interrompido antes da etapa da remuage, quando o conteúdo das garrafas é colocado em um tanque sob pressão, filtrado, acrescido licor de expedição (mistura de vinho e açúcar que determinará a doçura final do vinho) e novamente engarrafado

Método Asti: caracterizado pela variação da temperatura do mosto e apenas uma fermentação alcoolica, é usado na produção de vinhos espumantes doces e frutados na região piemontesa de Asti, noroeste da Itália

Método de carbonatação: este método consiste em injetar gás carbônico em um vinho tranquilo, produzindo espumantes frutados e de baixo preço

NON-VINTAGE x VINTAGE
O termo vintage significa ano da colheita ou safra. Vinhos tranquilos ou espumantes elaborados por uvas de safras diversas são não safrados ou non-vintage. Em geral, quando não há a indicação de ano no rótulo, temos um vinho non-vintage, o que indica um estilo constante daquele vinho, ano após ano, safra após safra.

Espumante Louis Bouillot Rosé Brut, sem indicação de safra, ou seja, non-vintage. Ah… Apesar de elaborado pelo método tradicional, foi produzido na Borgonha (França), e, portanto, não pode ser chamado de champagne. À venda na Wine

Os vinhos vintage, por outro lado, provêm de uma única safra e são produzidos, geralmente, apenas em anos de vindima de qualidade espetacular. No caso de regiões como Champagne, em que as safras variam consideravelmente de ano para ano, os vinhos safrados podem ser muito valiosos, pois sua produção acaba sendo muito limitada.

Champagne Veuve Clicquot Vintage Rosé 2004. Comprado na Wine, os vintage são uma ótima sugestão para datas comemorativas, como este exemplar do ano de nascimento do meu filho, que será aberto no seu aniversário de 18 anos

ESPUMANTES PARA TODOS OS GOSTOS
Em uma das minhas primeiras matérias (leia aqui), falei sobre espumantes tipo “ice”, que são aqueles elaborados especialmente para serem bebidos com pedras de gelo: ideais para temperaturas mais altas, na praia ou à beira da piscina.

Calvet Ice Chardonnay Demi Sec. Espumante branco da região de Bordeaux, elaborado com uvas chardonnay. À venda na Cantu Importadora

E se na hora de brindar uma ocasião muito especial com os familiares e os amigos reunidos, alguém estiver tomando medicação ou vai dirigir em seguida? Aqui em casa, ninguém fica sem brindar! Há no mercado diversas opções de bebidas gasosas, que imitam os espumantes, na cor, nos aromas, no perlage e, principalmente, na embalagem, inclusive com rolhas (de plástico).

Bebida gasosa, não alcóolica, com aromas e sabores de uva e maçã. À venda na Ingá Vinhos

Dúvidas, sugestões, comentários? Conte pra gente! Esta coluna é sua!

E um brinde cheio de borbulhas a todos, sem exceção!!!
Saúde!

*Lucia Grimaldi, colunista do Que Gostoso!, é graduada e pós-graduada em fonoaudiologia e direito e possui a certificação internacional Wine & Spirit Education Trust (WSET) nível 2. Contatos: grimaldipervino@gmail.com e o instagram @grimaldipervino

2 comentários sobre “Um mundo de borbulhas

  1. Amei a matéria!
    Muito rica e esclarecedora. Fiquei encantada com o processo de elaboração dos espumantes e muito feliz em saber que também existem opções não alcoólicas.
    Um brinde borbulhante a você! Parabéns!

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